Possuir a tecnologia atômica passou a ser elemento de ameaça.
Desde 1947, relógio criado por cientistas 'conta minutos' para o apocalipse.
Nesta semana, um teste nuclear feito pela Coreia do Norte voltou a levantar temores sobre o possível uso destrutivo da tecnologia atômica, que poderia levar a uma guerra mundial de grandes proporções. A ameaça do líder norte-coreano Kim Jong-il, no entanto, não é nova. Nem a dele e nem a de outras nações nucleares como Irã, Índia, Paquistão e EUA.
Depois que o mundo se deparou com a realidade dos efeitos atômicos nas cidades japonesas de Hiroshima e de Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial, as nações passaram a ter um elemento a mais para jogar na balança de poder: quem tem a bomba ganha de quem não tem. Apenas duas décadas após 1945, Inglaterra, União Soviética, China e França já tinham seus programas nucleares. A partir daí, Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte também investiram na tecnologia.
"As armas nucleares remodelaram a política internacional e nosso entendimento de guerra. A posse da bomba se tornou um símbolo instantâneo de 'grande poder'", explica o especialista em relações internacionais e professor da American University Peter Howard, em entrevista ao G1.
Veja fotos da crise nas Coreias
"Os Estados adquirem armas nucleares por duas razões: status e segurança. Nações nucleares são grandes potências e devem ser tratadas com um certo respeito e diferença. Dois exemplos atuais disso são o Irã e a Coreia do Norte. Ambos querem ser levados a sério e procuram a capacidade de deter uma potencial ação militar de forças externas - leia-se EUA. A proteção nuclear também pode ser usada como provocação."
O auge do perigo
Apesar de hoje isso ser visível nas constantes ameaças da Coreia do Norte e do Irã, o período da história que mais viu essa ameaça de perto foi a Guerra Fria. Nesse período de constantes ameaças, as hostilidades entre os EUA e a ex-União Soviética (URSS) se baseavam na questão atômica. Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos (publicação criada em 1945 por um grupo de pesquisadores), na metade dos anos 1960, o arsenal americano era de 30 mil ogivas, e em 1980 a URSS tinha cerca de 40 mil. Como comparação, hoje, EUA e Rússia têm aproximadamente mil artefatos nucleares prontos para serem lançados.
O mais perto que o mundo esteve de uma guerra nuclear foi provavelmente durante a Crise dos Mísseis, em 1962, quando os EUA e a URSS acabaram conseguindo contornar a situação criada pelos artefatos em Cuba. "Os americanos tinham a invasão de Cuba como uma opção séria, e os soviéticos estavam armados com ogivas nucleares na ilha, autorizados a usá-las", afirmou Howard.
O professor de ciência política da Universidade de Indiana e autor de "Nuclear Proliferation in South Asia: Crisis Behaviour and the Bomb", Sumit Ganguly, concorda com a ideia do auge da Crise dos Mísseis. "Acredito que o perigo do uso nuclear é muito menor hoje do que nessa época da Guerra Fria."
Ameaça constante
Com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, a problemática nuclear se dissolveu, passando a afetar regiões específicas, como a Índia, o Paquistão e as Coreias. "A briga constante entre essas duas nações nucleares pela fronteiriça Caxemira levantou ameaças de uma guerra nuclear. O conflito de Kargil, em 1999, foi particularmente tenso, com dúvidas a respeito de quão perto o Paquistão esteve de usar seus artefatos nucleares."
Com o passar dos anos, o know-how nuclear e os materiais necessários para o uso da bomba viajaram por diversos países. Hoje, segundo especialistas, há ainda a ameaça de que terroristas consigam produzir armas atômicas. Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos, o urânio enriquecido (um dos materiais para a bomba) pode ser encontrado em mais de 40 países ainda sem poder nuclear.
A Agência Nacional de Energia Atômica estima que de 20 a 30 países têm capacidade ou intenção de produzir armas atômicas, enquanto as principais potências nucleares continuam modernizando seus arsenais.
Minutos para o apocalipse
Em 1947, dois anos após as bombas de Hiroshima e Nagasaki, um grupo de cientistas fundou nos EUA uma revista sobre o tema nuclear. Junto com a publicação, eles criaram um relógio simbólico que media os "minutos" que faltariam para uma possível guerra nuclear de proporções gigantescas no mundo. A meia-noite seria o fim dos tempos, segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos. "O relógio simboliza a urgência do perigo nuclear que os fundadores da revista estão tentando alertar para o público e para os líderes mundiais", afirma o site do grupo (em inglês).
Desde o começo do relógio, periodicamente os pesquisadores alteram seus ponteiros, para mais ou menos perto da meia-noite. Hoje ele marca 23h55. O mais perto que ele esteve do apocalipse foram dois minutos a menos, em 1953 , quando os EUA decidiram seguir com seu projeto da bomba de hidrogênio e a União Soviética testou mais artefatos atômicos. Acompanhe abaixo os principais lances do relógio:
Desde 1947, relógio criado por cientistas 'conta minutos' para o apocalipse.
Nesta semana, um teste nuclear feito pela Coreia do Norte voltou a levantar temores sobre o possível uso destrutivo da tecnologia atômica, que poderia levar a uma guerra mundial de grandes proporções. A ameaça do líder norte-coreano Kim Jong-il, no entanto, não é nova. Nem a dele e nem a de outras nações nucleares como Irã, Índia, Paquistão e EUA.
Depois que o mundo se deparou com a realidade dos efeitos atômicos nas cidades japonesas de Hiroshima e de Nagasaki, no fim da Segunda Guerra Mundial, as nações passaram a ter um elemento a mais para jogar na balança de poder: quem tem a bomba ganha de quem não tem. Apenas duas décadas após 1945, Inglaterra, União Soviética, China e França já tinham seus programas nucleares. A partir daí, Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte também investiram na tecnologia.
"As armas nucleares remodelaram a política internacional e nosso entendimento de guerra. A posse da bomba se tornou um símbolo instantâneo de 'grande poder'", explica o especialista em relações internacionais e professor da American University Peter Howard, em entrevista ao G1.
Veja fotos da crise nas Coreias
"Os Estados adquirem armas nucleares por duas razões: status e segurança. Nações nucleares são grandes potências e devem ser tratadas com um certo respeito e diferença. Dois exemplos atuais disso são o Irã e a Coreia do Norte. Ambos querem ser levados a sério e procuram a capacidade de deter uma potencial ação militar de forças externas - leia-se EUA. A proteção nuclear também pode ser usada como provocação."
O auge do perigo
Apesar de hoje isso ser visível nas constantes ameaças da Coreia do Norte e do Irã, o período da história que mais viu essa ameaça de perto foi a Guerra Fria. Nesse período de constantes ameaças, as hostilidades entre os EUA e a ex-União Soviética (URSS) se baseavam na questão atômica. Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos (publicação criada em 1945 por um grupo de pesquisadores), na metade dos anos 1960, o arsenal americano era de 30 mil ogivas, e em 1980 a URSS tinha cerca de 40 mil. Como comparação, hoje, EUA e Rússia têm aproximadamente mil artefatos nucleares prontos para serem lançados.
O mais perto que o mundo esteve de uma guerra nuclear foi provavelmente durante a Crise dos Mísseis, em 1962, quando os EUA e a URSS acabaram conseguindo contornar a situação criada pelos artefatos em Cuba. "Os americanos tinham a invasão de Cuba como uma opção séria, e os soviéticos estavam armados com ogivas nucleares na ilha, autorizados a usá-las", afirmou Howard.
O professor de ciência política da Universidade de Indiana e autor de "Nuclear Proliferation in South Asia: Crisis Behaviour and the Bomb", Sumit Ganguly, concorda com a ideia do auge da Crise dos Mísseis. "Acredito que o perigo do uso nuclear é muito menor hoje do que nessa época da Guerra Fria."
Ameaça constante
Com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, a problemática nuclear se dissolveu, passando a afetar regiões específicas, como a Índia, o Paquistão e as Coreias. "A briga constante entre essas duas nações nucleares pela fronteiriça Caxemira levantou ameaças de uma guerra nuclear. O conflito de Kargil, em 1999, foi particularmente tenso, com dúvidas a respeito de quão perto o Paquistão esteve de usar seus artefatos nucleares."
Com o passar dos anos, o know-how nuclear e os materiais necessários para o uso da bomba viajaram por diversos países. Hoje, segundo especialistas, há ainda a ameaça de que terroristas consigam produzir armas atômicas. Segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos, o urânio enriquecido (um dos materiais para a bomba) pode ser encontrado em mais de 40 países ainda sem poder nuclear.
A Agência Nacional de Energia Atômica estima que de 20 a 30 países têm capacidade ou intenção de produzir armas atômicas, enquanto as principais potências nucleares continuam modernizando seus arsenais.
Minutos para o apocalipse
Em 1947, dois anos após as bombas de Hiroshima e Nagasaki, um grupo de cientistas fundou nos EUA uma revista sobre o tema nuclear. Junto com a publicação, eles criaram um relógio simbólico que media os "minutos" que faltariam para uma possível guerra nuclear de proporções gigantescas no mundo. A meia-noite seria o fim dos tempos, segundo o Boletim dos Cientistas Atômicos. "O relógio simboliza a urgência do perigo nuclear que os fundadores da revista estão tentando alertar para o público e para os líderes mundiais", afirma o site do grupo (em inglês).
Desde o começo do relógio, periodicamente os pesquisadores alteram seus ponteiros, para mais ou menos perto da meia-noite. Hoje ele marca 23h55. O mais perto que ele esteve do apocalipse foram dois minutos a menos, em 1953 , quando os EUA decidiram seguir com seu projeto da bomba de hidrogênio e a União Soviética testou mais artefatos atômicos. Acompanhe abaixo os principais lances do relógio:
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