De pouco serve se queixar do desinteresse dos estudantes da ETESC sem compreender e enfrentar isso como um problema da escola e do professor
Quando vemos os alunos indiferentes, precisamos compreender a situação e cuidar dela, pois a apatia em jovens não é natural e inviabiliza o trabalho dos professores, já que ninguém aprende se estiver desinteressado. Se for o caso de um único estudante de uma classe motivada, é provável que o professor ou o conselho de classe identifiquem, tratem ou encaminhem esse problema. No entanto, a situação mais comum, de muitos desinteressados, raramente é enfrentada, pois meros desabafos na sala de professores levam à conformação com o fato de que "eles são assim mesmo...". Quem procurar saber se os desmotivados do 3º ano também são fora da classe ou já eram no 1º ano, provavelmente verá que a situação é diferente, como foi nos primeiros anos e, aliás, nem nos anos seguintes se houver um ambiente em que a cultura e o trabalho sejam valorizados. Portanto, "eles não são assim mesmo". Não se trata só de questões de personalidade ou da puberdade, mas de uma combinação de fatores. Há muitos alunos para quem o saber que a escola oferece, parece supérf luo, pois eles convivem com quem já esqueceu tudo isso e não sente falta. E quando a Educação é tratada como "transmissão" de conhecimento, eles se frustram, pois esperam aulas-show que reproduzam o consumo passivo de certos entretenimentos.
Os mesmos jovens, em escolas que são espaços de trabalho e participação - onde as aulas servem para aprender os conteúdos e eles produzem jornais, mostras de ciência, campanhas sociais, espetáculos de teatro e música -, não se aborrecem nem se entediam. Ao contrário, aprendem a valorizar os conhecimentos e a desenvolver competências. Ou seja, não há a apatia nas escolas em que quem aprende é continuamente mobilizado para a ação e exposto a tarefas e desafios reais. Infelizmente, isso não é regra e é preciso propor alternativas.
É comum os professores não serem de uma só escola, terem centenas de alunos cujas características desconhecem e, simplificando sua dura rotina, repetirem aulas expositivas na sequência formal de livros e apostilas. Mesmo nessa condição, alguns conseguem despertar interesse em vários alunos, mas é compreensível que não sensibilizem outros, que acabam se tornando os estudantes "indiferentes".
O ideal seria garantir maior presença dos educadores, em convívio propiciado pelo seu pertencimento à escola. Se isso não for possível, um maior envolvimento deles no projeto pedagógico e a adoção de uma metodologia que privilegie a participação efetiva dos alunos pode ajudar. Custará um pouco mais, em horas-trabalho de docentes, mas surtirá um bom efeito naquela condição. Há outro problema que transcende a escola, mas que esta e seus professores também podem tratar: a distância entre os conteúdos do currículo e a cultura extraescolar de muitos alunos. A falta de bibliotecas (pouco espaço) e demais equipamentos culturais e profissionais desestimula a leitura e dificulta o acesso dos jovens a produções artísticas e científicas. Isso equivale a reduzir seu universo de informação a pouco mais do que as horas diante de aparelhos de TV e PC. Ainda que externa à escola, é uma condição de seus alunos e deve ser enfrentada.
Mas como fazer isso? Se não há museus de arte ou ciência nas imediações, fazem-se sessões coletivas com seus DVDs e visitas virtuais pela internet. Se não há sala de projeção nem internet (devidamente equipado), emprestam-se filmes para serem exibidos e depois discutidos. Se não há biblioteca e videoteca (devidamente equipado), denuncia-se isso e cria-se um programa de empréstimos. Não planejam visitas a empresas e parlamentos locais e debatem-se as condições de saneamento e transporte na comunidade. E, para quem questionar se isso é função da escola, pergunte-se: então, de quem seria? E a quem se recusar a essa função, pergunte-se: então, de quem é a apatia?
[Texto baseado no Artigo de Luiz Carlos de Manezes (Físico e educador da USP)]
4 comentários:
Oi querido. Li e gostei. Postei um comentário. Parabéns. bjs
Parabéns, ótimo artigo me fez refletir bastante sobre esse assunto .Abaixo segue uma analise critica que eu fiz ,por favor não reparem os erros de gramática,risos..
É realmente frustrante o sistema acadêmico no Brasil , o aluno não tem apoio da escola e as vezes nem da família , alguns professores,nem todos colaboram para que o sistema “devore” o aluno. Muitos desses profissionais não acreditam mais em seus alunos.E o que é hilário e performático que vejo é o estado em seu gigantesco cinismo,dizer que o ensino esta melhor do que nunca!
Bom ,agora generalizando o que dizer sobre a nossa escola? Simples...não há muito o que dizer ,vemos todos os dias mais e mais jovens se perdendo, destruindo seu futuro, pois não há muita esperança pra quem estuda nesta escola.O que me deixa um pouco aliviado é saber que ainda existem pouquíssimos professores e alguns alunos nesta unidade , que são um exemplo de dedicação e vitoria respectivamente falando.Só os mais fortes e perseverantes sobrevivem a esse caos .Se você é aluno desta escola ou de qualquer outra, aconselho a não desistir do seu objetivo por mais que “amigos” ou alguns “professores” tentem te desmotivar não dê ouvidos , pois estas pessoas não acreditam mais na educação e nem em si mesmas.
Oi aqui é o Professor da FAETEC,
Esse assunto deveria ser discutido no coque, é uma vergonha ver um aluno observar isso e nos mesmos não, minha concepção mudou muito após esse texto.
Vamos ver como a Pedagogia e a Direção vai se manifestar após esse texto tão polemico!
Muito bom o texto.
Na verdade o ensino como um todo deve ser repensado. Já existem boas mobilizações por parte de alguns docentes em boas pós-graduações e demais cursos que são direcionados à educação. Mas, ainda falta muito para se que tudo seja colocado em prática.
Um dos fatores que identifico como problema é pensar em educar sem pensar na evolução do ser humano e conseqüentemente no avanço tecnológico. Afinal, estudos comprovam que uma criança chega ao jardim com 4 anos de idade e mais de 4000 horas televisivas na mente. Não há como aplicar conhecimento à esta da mesma forma que nos foi passado.
A questão da valorização financeira também conta, porém a valorização 'moral' concedida através do reconhecimento dos alunos é, de longe, algo que combate a desmotivação do professor.
Mas, é preciso ainda que se compreenda que a educação de fato só acontece quando TODOS estão envolvidos: alunos, professores, diretores, agentes (inspetores, etc.), pais e sociedade.
A mobilização precisa ser grande, o caminho é longo, mas é possível vencer quando se aplica o que eu chamo de EDUCAÇÃO VIVA.
Se não há meios como videoteca ou internet, mobilizem-se para consegui-los. Mas, enquanto estes não chegam, experimentem um passeio multidisciplinar: turmas visitando locais onde possamos observar a história daquele local, porém não aprenderíamos só história... que tal se a equipe de biologia explicasse o ecossistema que se formou ali durante todos estes anos? E o pessoal de info motivando os alunos a desenvolverem um vídeo para uma apresentação através de sistema desenvolvidos pelos próprios alunos, em data marcada na volta do passeio?
Nessa brincadeira, tem espaço para todas as disciplinas: matemática, física, português, etc.etc.
Como já disse: o esforço e grande, mas a vitória é possível.
Um forte abraço.
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