O final do ano de 2009 foi marcado pela megaprodução cinematográfica Avatar, do diretor James Cameron. Sem entrar no julgamento de enredo, o filme marcou a história do cinema, bateu recordes e deve estipular novos padrões em termos de captura e projeção de imagens nos cinemas.
Se você se surpreendeu com a tecnologia 3D empregada nele, prepare-se para mais. Na Coreia do Sul, a produção de James Cameron foi exibida em 4D, com direito a cheiro de explosivos, água e vento nos espectadores.
A experiência começou a ser preparada em 2009. De fato, o cinema 4D não é totalmente novo para os coreanos —Viagem ao Centro da Terra já foi exibido em uma sala com 88 lugares — mas o sucesso de Avatar deu o empurrão que faltava para levar mais diversão para o grande público.
Mais uma dimensão
Resumidamente, o cinema 4D adiciona experiências sensoriais a um filme 3D, “cutucando” os cinco sentidos dos espectadores. A cadeira se mexe e outros elementos são utilizados em sincronia com o que se passa na telona.
Os efeitos incluem espirros de água, vento, bolhas de sabão, prendedores nas pernas, cheiros, iluminação com estrobos, cadeiras vibratórias — enfim, qualquer atrativo que enriqueça a experiência do público.
Em um filme sobre piratas, por exemplo, a cadeira pode balançar como um navio, e espirros de água e jatos de vento brisa simulam a força do mar e as condições do tempo.
Na verdade, não há uma lista com o que é usado: o que for possível adicionar a uma sala para despertar os sentidos do público vale. A exibição de Avatar em 4D na Coreia utilizou não menos que 30 efeitos durante os 162 minutos de filme, que incluiam cadeiras que balançavam, cheiros de explosivos, esguichos de água, laser e vento.
Algo está errado fisicamente
Recapitulando as aulas de física: as três dimensões são altura, largura e profundidade. A quarta dimensão representa o tempo, ou a passagem do tempo em si. É uma dimensão que não pode ser realmente vista, mas pode ser, de certo modo, percebida.
O físico teórico alemão Albert Einstein, por exemplo, contribuiu para os estudos da quarta dimensão. Para ele, o tempo passa de maneira relativa, isso depende se uma pessoa está em repouso ou em movimento.Quanto mais rápido o movimento, menos o tempo passa. O físico teórico japonês Michio Kaku, em 2000, definiu a quarta dimensão de maneira tão simples quanto interessante: “é a metáfora para o estranho e misterioso”.
Logo, cinema 4D é um nome de marketing, criado para continuar uma sequência crescente, de maneira parecida com os MP4, MP9, "MP500" da vida. Por mais avançada que seja a tecnologia de Avatar, um filme que desafia os conceitos físicos sobre o tempo nesse nível não deve sair do papel.
Não é exatamente novo
A Disney é uma referência em experiências nesse sentido e exibe títulos desde a década de 80. Claro que não com a qualidade e o nível de interação atuais, mas com alguns desses elementos. Captain EO, um filme 3D exibido em parques da Disney nas décadas de 80 e 90, é considerado o primeiro filme 4D da história, porque aplicou efeitos como lasers e fumaça nas sessões. O filme voltará a ser exibido em 2010 no Magic Eye Theater, na Disney. O roteiro é de George Lucas, a direção é de Francis Ford Coppola e no elenco está um tal de Michael Jackson.
Filmes em 4D são atrações que já fazem parte de diferentes parques temáticos, como Flamingo Land Resort, London Eye e Thorpe Park (Inglaterra); Busch Gardens Africa, Enchanted Kingdom (Filipinas), Sentosa (Singapura), Movie Park (Alemanha), Universal Studios, Warner Bros. Movie World e SeaWorld (EUA).
As salas do complexo CJ-CGV, que exibiu Avatar em 4D na Coreia, são consideradas as mais avançadas do mundo pelos criadores. Kim Daehee, responsável pela publicidade do complexo, afirma que “não há salas 4D como a nossa pelo mundo. O complexo 4D da CJ-CGV é o primeiro no mundo que oferece experiências para os cinco sentidos em um único filme.”
Em 2009, foram exibidos 10 filmes com efeitos 4D no complexo coreano. O que Avatar fez foi levar a experiência a outro nível, e a expectativa é que cada vez mais filmes de sucesso ganhem também sua versão 4D.
No Brasil, a primeira sala 4D do Brasil foi inaugurada em 2009, no Alpen Park, em Canela, no Rio Grande do Sul. “A projeção em 4D tem simulação de movimentos nas poltronas e efeitos sensoriais, que serão os grandes diferenciais da novidade. As simulações permitem a percepção do vento, respingos d’água e de contatos de objetos, por exemplo. Além disso, um sistema de som de última geração vai garantir alto nível de entretenimento e diversão”, anuncia o site oficial do parque.
A sala começou a ser projetada em 2007. Já estão programadas exibições de Uma Ode à Vida e A Ilha Perdida. Os ingressos custam R$ 15 e as sessões acontecem de 30 em 30 minutos, de acordo com o site do Alpen Park.
E o que se conclui
O cinema 4D é ambicioso e aposta na memória do espectador. Ao assistir a um filme 4D, a sensação é de que se participou de algo, de que se fez parte de uma atração. A memória não acaba no “eu vi tal filme”, ela chega a outro nível: “eu participei de tal filme”. O cérebro tende a considerar a experiência real.
Assim como Avatar não foi a “estreia” do 3D (acredite, havia 3D na década de 50), esta exibição especial na Coreia não é o primeiro passo do 4D. Trata-se de um novo foco, um novo mercado para a tecnologia.
De parques temáticos, as experiências com os sentidos podem chegar a Hollywood. Provavelmente não será um fenômeno e não acontecerá da noite para o dia, mas certamente surgirá com força quando a indústria sentir a necessidade.
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